domingo, 26 de outubro de 2008

Desculpa, digo, mas se eu não tocar você agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só essa vontade quase simples de estender o braço pra tocar você. já dissemos tudo o que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação, impressão, ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e com a ponta dos meus dedos tocar você. Apenas olha pra mim, sorri. Quanto tempo dura? ow, despencou uma estrela e fizemos, ao mesmo tempo e em silêncio, um pedido, dois pedidos. Pedi pra saber tocá-la. Você não me conta seus desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, se entreabre lenta, úmida, cigarro, chiclete, conhaque, vermelho, os dentes se chocam, leve ruído, as línguas se misturam. Naufrago em tua boca, esqueço, em tua saliva, afundo. Escuridão e umidade, calor do teu corpo contra a minha coxa, calor do meu corpo contra a tua coxa. Amanhã não sei, não sabemos.
Pensei em você. Eram exatamente três da tarde, sei porque perdi a cabeça como se você fosse uma tontura dentro dela. - O telefone toca três vezes. O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Guardo, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu. E basta fechar os olhos pra naufragar outra vez e cada vez mais fundo na tua boca. Abismos marinhos, sargaços. Minhas mãos escorrem pelo teu peito, alguma coisa então pára, as coisas param. As pessoas cortam sempre meu caminho à procura de cigarros, esqueiros, sexo, dinheiro, palavras e necessidades obscuras, que não chego a decifrar em seus olhos.. Tenho pressa, não podemos perder tempo. Já não identifico nenhuma palavra no que diz, me deixo levar ao movimento dos teus lábios. Apenas me deixo embalar pelo ritmo de sua voz, dentro dessa melodia monótona repetitiva. - Quase três da manhã. 02:43 Então, não temos onde ir, nunca tivemos aonde ir. ;x Preciso parar de beber, parar de fumar, parar de sentir - estou muito cansada - anormal, eu tenho medo - medo é culpa, medo é moral - não vê que é isso que eles querem que você sinta? Medo, culpa, vergonha - eu aceito, eu me contento com pouco. Eu quero risco, não digo. Nem que seja a morte. Chega em mim sem medo, toca meu ombro, olha nos meus olhos, como nas canções. Nada mais importa. Agora você me tem, agora eu tenho você. Nada mais importa. O resto? Ah, os restos são restos. E não importam. - Ou Julho, Agosto, Setembro, Outubro. ora os mais felizes, Ora os mais cruéis dos meses. Tanto faz, já não importará depois de tanto tempo; Olho tudo isso que vejo, e vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a perfeição das coisas, vou dizendo leve, então - e vou dizendo longo sem pausa - gosto muito de você muito de você. Tantas mortes, não existem mais dedos nas mãos e nos pés pra contar os que se foram. Viver agora, tarefa dura. De cada dia arrancar das coisas, com as unhas, uma modesta alegria; em cada noite descobrir um motivo razoável para acordar amanhã. Por favor, não me empurre de volta, há muito tempo estava acostumada a apenas consumir pessoas como se consome cigarros, a gente fuma, esmaga a ponta no cinzeiro, depois vira na privada, puxa a descarga, pronto, acabou. - Mas não, não com você. - Então vou apagar a luz e mergulhar de olhos fechados na curva do meu ombro, tanto frio, naufragar outra vez em tua boca, reinventar no escuro do teu corpo apertado contra meu corpo, apalpar,
senti-la.. Sem entender, lá vou eu abandonada, apavorada, e amanhã não desisto.
Te procuro em outro corpo, juro que um dia te encontro.
Não temos culpa. Tentei. Tentamos.

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